Laguna - A Cidade dos Mortos

Esse é um trecho de um texto que encontrei em morgdan.wikidot.com Sobre Laguna "A Cidade dos Mortos" muito bom e com certeza pode vir a inspirar muitas aventuras sombrias...Boa leitura
Laguna, ano 675
Caro Solkash, escrevo esta carta para lhe informar que alcancei Laguna, cidade natal de meu pai e meu avô. Estou bem e espero que também esteja. Cheguei à cidade pela Estrada-Oeste, chegando ao Vale das Almas rapidamente. Em poucos dias de viagem já podia avistar o Portão da Fúria - um grande portão de pedra que marca a entrada da cidade. Os locais dizem que foi construído pelos loivtyanos para lembrar o povo de sua derrota. Falam também que passar por debaixo deste portão é um péssimo agouro.
Foi difícil, mas encontrei a velha residência de vovô. Encheu-me de alegria encontrar nela antigos papéis escritos pelo meu próprio avô e aquele seu amigo, o qual você menciona constantemente, Abdel-Carim. Tratam-se de fragmentos de um Diário de Viagem do bardo e memórias escritas de próprio punho pelo meu avô, relatos da Guerra entre os Reinos.
Laguna é realmente uma cidade intrigante. A terra aqui é árida. Nada se planta, como em todo resto de Longness. Toda a comida daqui vem de fora e alcança altos preços. Mas isto não é o mais impressionante. Laguna é realmente uma “cidade de mortos-vivos”. Finalmente posso entender porque a chamam em todo o continente de “Cidade dos Mortos”
Realmente a malha que separa o mundo dos vivos e dos mortos parece não existir em Laguna. As pessoas entram em contato constantemente com espíritos dos que já se foram. Eu mesmo, no pouco tempo que estive na cidade, já tive dois encontros com estas criaturas. Foram experiências terríveis. As almas atormentadas mencionavam constantemente o nome de uma pessoa, algo como o local onde seu corpo estava enterrado. Não consegui dormir durante uma semana.
Os habitantes daqui parecem conviver normalmente com isto. Muitos tentavam me interrogar, na ânsia de descobrir o que os espíritos queriam dizer. Acreditam que isto possa ser útil de alguma forma.
Certa noite vi vultos que rondavam uma Vila abandonada e murada na parte velha da cidade. Dizem que são soldados zumbis. Que estão condenados a guardar seus tesouros eternamente. Não pretendo me aventurar em local tão perigoso para descobrir a verdade.
Inúmeros são os necromantes na cidade. Geralmente ocupam posições sociais privilegiadas, pelo fácil contato que têm com os mortos. Ao que tudo indica, muitos tesouros, artefatos e relíquias estão espalhados por toda a região e apenas os mortos podem revelar os locais destes tesouros perdidos. Tudo em troca de pequenos favores, é claro. Mas o que são pequenos favores em uma região tão inóspita quanto essa? Conheci um necromante chamado Arnerral. Ele especializou-se em usar seus poderes para escravizar almas e faze-las trabalhar para ele. Uma figura detestável, certamente.

Fantasmas e zumbis aparentemente não são os únicos morto-vivos de Laguna. Um castelo construído há pouco tempo nas montanhas que cercam a cidade, abriga um conde que, muitos dizem, suga o sangue das pessoas e nunca é visto à luz do sol. Ao que tudo indica o homem é um vampiro, mas ainda não pude confirmar este rumor.



O grande Lago Aslardur continua com suas águas límpidas como mencionado nos escritos de Abdel, mas poucos são os que se atrevem a navegar nestas águas. O porto está abandonado e velhos navios estão encalhados em suas margens. O motivo disso são os barcos-fantasmas. Acredite, caro Solkash, barcos tripulados por almas que ainda acreditam estarem vivas surgem em meio às brumas do lago certas noites. Uma visão apavorante, com certeza. Falam que quem bebe as águas do lago é acometido por uma profunda depressão, dizem que foi uma benção de Hellenah (Deusa da Tristeza). Os magos da região utilizam muito estas águas.

É difícil acreditar que em meio a tantos perigos a população se mantenha firme em seu lar, mas após ler os textos de vovô eu entendo o porquê. Para onde iria este povo? E mais, este é o lar deles, nem mesmo todo um exército foi capaz de expulsa-los daqui. É admirável ver tamanha bravura e amor pela terra nestas pessoas. Analisando friamente a situação é possível ver que eles extraem muitas vantagens de Laguna. O contato com os mortos lhes revelam muitos segredos, impossíveis de serem descobertos fora daqui. Bairros inteiros estão abandonados nesta cidade e uma mera visita a estes bairros infestados de almas ancestrais, pode revelar o conhecimento de uma vida inteira. Este é um povo sombrio e atormentado, com certeza, mas também é um dos povos mais sábios que já conheci.
Muitos dos mortos são difíceis de diferenciar de alguém vivo. Por isso é muito bom ter cuidado ao lidar com as pessoas neste lugar. Aliás, às vezes é muito melhor ter cuidado com os vivos. Guildas de criminosos e assassinos, e até um culto a Hellenah, aterrorizam as noites da cidade. Infelizmente são eles que garantem a existência dela, contrabandeando produtos para o mercado negro. Dizem até que alguns trabalham para o próprio burgomestre.
Apesar destes relatos, não quero que tema por mim Solkash. Mesmo com a população sombria e os mortos rondando em cada esquina, Laguna é um bom lugar para se viver, caso você seja esperto. Em breve estarei de volta.
Sinceramente
Calreth II, filho de Mirmidon

Ano 760
Solkash nunca chegou a receber a minha carta. Na noite em que a escrevi fui assassinado em um culto a Hellenah. Realmente a cidade dos mortos é um ótimo lugar para pessoas espertas viverem, eu achei que era esperto o suficiente. Quase um século se passou desde minha morte e até hoje busco vingança, não descansarei enquanto os malditos sacerdotes não forem punidos. Enquanto isso, estarei preso a esta terra.
Mas finalmente descobri o que mantém esta cidade em pé, todo este reino maldito em pé. Esperança. A esperança de ajudar aqueles que se foram a apaziguar suas almas, a esperança de espiar as suas próprias culpas e erros, a esperança de obter vingança contra as injustiças que sofreram, a simples esperança de partir para outra vida…Todos aqui, vivos ou mortos, buscam redenção.
Reuni toda a minha força para juntar anotações e formar este livro, espero que caia nas mãos certas, para que eu possa finalmente alcançar a minha redenção…
Calreth II, filho de Mirmidon